terça-feira, 21 de setembro de 2021

Como se diz "beija-flor" em tupi?

O beija-flor é conhecido por vários outros nomes em português: colibri, guanambi, guainumbi etc. Alguns desses nomes têm origem tupi. 

gûaînumby
beija-flor, colibri, guanambi

gûarasyaba
beija-flor

Etimologicamente, acredita-se que gûarasyaba venha de kûarasy (sol) e aba (cabelo, pelo, penugem). Seria assim "cabelo de Guaraci", em que Guaraci (Kûarasy) é a personificação do Sol na mitologia tupi-guarani. Talvez seja uma referência ao brilho da penugem dos guanambis.

Algumas espécies de beija-flor (guainumbi).
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Trinidad_and_Tobago_hummingbirds_composite.jpg

Os nomes tupis para o beija-flor encontram-se também em topônimos: Guanambi (cidade da Bahia), Guaraciaba (cidade em Santa Catarina), Alameda dos Guainumbis (em São Paulo), Guanumbi (distrito de Buíque, Pernambuco). Se você conhece outro exemplo, deixe um comentário.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Como se diz "pássaro" em tupi?

A palavra para "pássaro", ou, mais genericamente, "ave" é gûyrá

gûyrá
ave
pássaro
passarinho

Essa palavra deu origem a elementos como guara(á), guira(á) e uira(á) em diversas palavras do português, como:

  • araguirá - tico-tico-rei;
  • guará, ou guará-pitanga - espécie de ave, de gûyrapytanga (gûyrá-pytanga), "ave vermelha";
  • Guaratinga - nome de cidade baiana, de gûyratinga (gûyrá-tinga), "ave branca", "garça";
  • Guaratinguetá - nome de município de São paulo, de gûyratingetá (gûyrá-ting-etá), "muitas aves brancas", "muitas garças";
  • Guiratinga - cidade do Mato Grosso;
  • graúna - nome derivado de guirá-unagûyrá-una, "pássaro preto")
  • guirapuru - pássaro, o mesmo que uirapuru;
  • uirapuru - pássaro famoso pelo seu canto.

Guará-pitanga ou guará, ave nativa da América do Sul, também conhecida como íbis-escarlate.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oceanografic_Scarlet_Ibis_02.jpg


Como se diz "praça" em tupi?

Segundo o Curso de Tupi Antigo (Pe. A Lemos Barbosa), okara traduz-se como "praça". Essa palavra normalmente se refere ao espaço entre as ocas (oka: casa), ponto de encontro entre os moradores da aldeia.

okara
praça
espaço entre ocas/casas
ponto de encontro em uma aldeia


Veja também: https://pt.wiktionary.org/wiki/ocara



sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Revivificação do tupi

Muitos já dizem que o tupi antigo não pode mais ser considerada uma língua extinta, mas uma língua em revivificação. Vejamos aqui alguns exemplos de uso moderno da língua.


Minidicionário de neologismos de tupi 

Importante iniciativa de compilar neologismos por José Aristides da Silva Gamito. Devo aproveitar alguns deles aqui também.


Abanhe'enga

Blog de Emerson Costa, com tradução de quadrinhos, letras de música, nomes modernos e outros elementos da cultura popular moderna ao tupi.


Tupi Periódico

Blog que apresenta vocabulário ilustrado e traduções de expressões e frases ao tupi.


Língua Tupi

Blog que tem até os menus em tupi e apresenta neologismos para números, meses etc.


AKANGATARA

Canal do Youtube que ensina várias frases do dia-a-dia em tupi.


ROMILDO ARAÚJO

Canal do Youtube sobre o tupi clássico.


Em breve acrescentarei outros liames (links). Se você tiver uma sugestão, deixe um comentário.

LIVE sobre a língua Tupi Antigo

LIVE sobre a língua Tupi Antigo


Conversa sobre tupi antigo, a revivificação da língua, os jesuítas e outros assuntos, com José Aristides da Silva Gamino, Emerson José Silveira Costa, Romildo Araújo Guyraakanga Potiguara e Thomas Finbow.

Como contar em tupi?

Há diferentes maneiras de contar em tupi, veja nossa outra publicação para maiores explicações. Uma opção de contagem é esta:

1 - îepé

2 - mokõî

3 - mosapyr

4 - irundyk

5 - ambó, pó

6 - poîepé

7 - pomokõî

8 - pomosapyr

9 - poirundyk

10 - opá

11 - opá îepé

12 - opá mokõî

13 - opá mosapyr

14 - opá irundyk

15 - opá ambó

16 - opá poîepé

17 - opá pomokôî

18 - opá pomosapyr

19 - opá poirundyk

20 - mokõî-opá

21 - mokõî-opá îepé

22 - mokõî-opá mokôî

23 - mokõî-opá mosapyr

...

30 - mosapyr-opá

40 - irundyk-opá

50 - ambó-opá

60 - poîepé-opá

70 - pomokõî-opá

80 - pomosapyr-opá

90 - poirundyk-opá

100 - ken

110 - ken opá

120 - ken mokõî-opá

121 - ken mokõî-opá îepé

...

130 ken mosapyr-opá

...

200 - mokõî-ken

300 - mosapyr-ken

...

1000 - mir

...

1000000 - miryion


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Como se diz "água" em tupi?

A palavra "água" em tupi é formada por dois fonemas inexistentes no português brasileiro:

  • a consoante oclusiva glotal, representada por um apóstrofo ('): uma breve interrupção da passagem de ar, como na negação "hã-hã" ou na expressão inglesa "uh-oh";
  • a vogal central fechada não arredondada, representada por y: aproximadamente a letra "u" pronunciada sem arredondar os lábios e de forma mais relaxada (às vezes descrita como "u com lábios de i").
'y
água
rio

Pelo seu som peculiar, essa palavra tornou-se ora "i" ora "u" em palavras de origem tupi, como Ipanema ('y + panema, "água imprestável", que não se refere à água da famosa praia, mas da cidade de origem do Barão de Ipanema) e Itaú (itá + 'y, "rio de pedras", "rio da pedra").

Ouça:



Como se diz Brasil em tupi?

Nos primeiros textos escritos em tupi, era costume escrever nomes do português em sua forma original, de modo que se pode escrever Brasil mesmo. No entanto, existe uma história muito difundida que diz que os tupis chamavam as terras brasileiras de Pindorama ("onde houver palmeiras") ou Pindoretama ("terra das palmeiras"). O guarani paraguaio usa Pindoráma como "Brasil".

Pindorama
Brasil

( pindoba + rama )
( palmeiras + há de haver {futuro} )
"onde houver palmeiras"

Pindoretama
Brasil

( pindoba + r + etama )
( palmeiras + {caso relativo/possessivo} + terra ou país )
"terra de palmeiras"


Outra opção é fazer adaptações fonéticas da palavra "Brasil", escrevendo da forma que um tupi nativo provavelmente a pronunciaria sem estar acostumado com o português. O encontro consonantal da sílaba "bra" não ocorre na fonotática tupi, de modo que seria substituída por algo como bara (com repetição da vogal da sílaba) ou bura (pois o som do u tem certa similaridade com o som do "r"). Outra opção é substituir o r por uma semivogal: bûa ou bŷa.

O y frequentemente aparece em tupi para evitar encontro de consoantes. Por exemplo, o sufixo -pe vira -ype quando precedido de consoante. Assim, poderíamos ter byra como "bra". No entanto, no guarani o y costuma substituir o "l" de encontros consonantais, como em Ingyatérra (do espanhol "Inglaterra"). Por outro lado, o nome "Austrália" foi adaptado como Autarália, repetindo o "a" da sílaba "tra". Por outro lado, "Londres" foi adaptado como Lóndyre, colocando y para separar as consoantes, mas mantendo o r (note que o guarani perdeu o "s" em final de sílabas ao adaptar os nomes em espanhol "Londres" e "Austrália"). Tomando o guarani como referência, as adaptações mais plausíveis de "bra" seriam bara e byra.

Em relação à sílabal "sil", o problema é a falta do som de "l" em tupi. A escolha mais natural de substituto para "l" é o r. Por outro lado, "Brasil" é de fato pronunciado como "Brasiu" na maioria dos dialetos do português brasileiro. Deste modo, as substituições mais plausíveis para a sílabal "sil" seriam sir e siû. Chegamos então a algumas possibilidades de adaptações fonéticas de "Brasil" no tupi: Barasir, Byrasir, Bûasir, Barasiû, Byrasiû, Bûasiû... Palavras terminadas em consoantes soam como adjetivos ou verbos em tupi, portanto um sufixo nominalizador -a também parece plausível: Barasira, Burasira, Byrasira... Faço aqui a minha escolha:

Barasira
Brasil


Fonte: Governo do Brasil, Public domain, via Wikimedia Commons
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flag_of_Brazil.svg


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Numerais ordinais em tupi

O numeral ordinal equivalente ao cardinal oîepé (um) é ypy (primeiro). Para os demais numerais ordinais até quarto, adiciona-se o sufixo -a ao numeral cardinal correspondente.

1º - ypy

2º - mokõîa

3º - mosapyra

4º - irundyka

É natural tentar fazer o mesmo para os demais numerais:

5º - ambó-a, amboa

6º - poîepé-a, poîepea

7º - pomokõîa

Curiosamente, em esperanto também se adiciona -a aos numerais cardinais para se formar os ordinais (1 - unu, 1º - unua / 2 - du, 2º - dua / 3 - tri, 3º - tria). Parece-me uma boa adaptação adotar a mesma regra para o tupi em sua forma revivificada, mas não há registros desse tipo de padrão para números maiores que quatro (4) em textos clássicos. Além disso, a adição do -a é facilitada pelos finais em consoante de mokõî (2) (a semivogal conta como consoante), mosapyr (3) e irundyk (4), o que não ocorre em ambó e poîepé, tornando o sufixo menos natural.

Segundo uma nota de rodapé (escrita por Edelweiss) de "O Tupi na Geografia Nacional" (Sampaio, 1987), o padre Bettendorff cita variações usando o prefixo mo- e o sufixo -saba (ou -ndaba na forma nasalisada) envolvendo o numeral cardinal, como em momokõîdaba (o n de -ndaba é omitido porque a nasalização já está presente em ôî), precedido do pronome i, como em i momokõîdaba (o segundo) ou i mocincosaba (o quinto, usando a palavra cinco em português).

5º - i mocincosaba

Sampaio cita que o nheengatu admite usar o sufixo -ûara para fazer o ordinal a partir do cardinal, como em mokõîûara (segundo) e mosapyraûara (terceiro), mas Edelweiss diz em nota de rodapé que essa estratégia é do nheengatu e não do tupi.

Tente usar os numerais cardinais, mostrados na publicação "Os números em tupi", para formar os ordinais usando o prefixo mo- e o sufixo -saba, ou o sistema importado do nheengatu, se preferir.

5º - moambosaba

6º - moamboîepesaba

e assim por diante.


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Apresente-se em tupi antigo

Para se apresentar, comece cumprimentando a todos:

Abá gûé!
Olá, pessoal!
(falado por homens)

Abá îú!
Olá, pessoal!
(falado por mulher)

A palavras abá significa "pessoa(s)", embora também possa ser usado como "homem(ns)", quando se faz oposição a kunhã (mulher), ou como "índio", quando se faz oposição a karaíba (homem branco). No entanto, para esses fins, existe apŷaba (homem, varão, macho) e abauna (homem escuro, homem negro, que era como os indígenas se diferenciavam dos europeus), ou mesmo os nomes das etnias particulares.


Diga o seu nome:

Xe rera João.
Meu nome é João.

Xe rera Maria.
Meu nome é Maria.

Para mais detalhes, veja:
https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-dizer-meu-nome-e-fulano-em-tupi.html


Diga a sua idade:

Arekó 18 akaîu-'aîuba.
Tenho 18 anos.

Arekó 60 akaîu-'aîuba.
Tenho 60 anos.

Para mais detalhes, veja:
https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-dizer-idade-em-tupi.html


Diga o que você faz:


Ixé nhembo'esara.
Eu sou estudante.

Ixé morombo'esara.
Eu sou estudante.

Ixé poroposanongar.
Eu curo pessoas.
Eu sou médico.

Para outras profissões e atividades:

https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-dizer-minha-profissao-ou-ocupacao.html

https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/profissoes-intelectuais-e.html

https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-se-diz-sou-um-estudante-em-tupi.html


Diga do que você gosta, usando a seguinte estrutura:

Xe moapysyk ____.
Gosto de _____.
(literalmente: Me agrada _____.)

Veja alguns exemplos:

Xe moapysyk mimbaba.
Gosto de animais de estimação.

Xe moapysyk (mimbaba) îagûara. 
Gosto de cachorros (de estimação).

Xe moapysyk (mimbaba) marakaîá.
Gosto de gatos (de estimação).

Xe moapysyk ybá.
Gosto de fruta(s).

Xe moapysyk ybá karu.
Gosto de comer fruta(s).

Xe moapysyk ybá karu.
Gosto de comer fruta(s).

Xe moapysyk kafery kamby ndi.
Gosto de café com leite.

Xe moapysyk îepé.
Gosto de você.
Você me agrada.

Asaûsub Tupã.
Amo a Deus.

Tupã xe moapysyk.
Deus me agrada.
Deus me sacia.

Para ver mais exemplos e aprender mais sobre o uso do verbo moapysyk, veja:

https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-se-diz-gostar-em-tupi.html


Diga onde e com quem você mora:

Xe sy irũ-mo aîkobé.
Moro junto com a minha mãe.

Aîkó xe sy, xe ruba abé irũnamo.
Moro com minha mãe e meu pai.

Caso precise de mais vocabulário de parentesco, veja:

Kó taba pupé aîkó.
Moro nesta cidade.

Rerityba pupé aîkó xe anama irũnamo.
Moro em Reritiba com minha família.
Fonte: Navarro, Método Moderno de Tupi Antigo

São Paulo pupé aîkó Maria irũnamo.
Moro em São Paulo com Maria.

Aîkobé Belo Horizonte-pe.
Moro em Belo Horizonte.

Para saber mais, veja:
https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/como-se-diz-morar-em-tupi.html


Em breve, acrescentaremos mais exemplos e vocabulário a este guia. Se quiser aprender a dizer algo específico, pergunte no comentário. Pode ser que eu saiba e pode ser que não, mas posso pesquisar em minhas fontes.

Parentesco em tupi

Emerson Costa está transcrevendo o Catecismo na Língua Brasílica (Padre Antônio de Araújo) para o ortografia usada pelos especialistas atualmente.

https://sites.google.com/site/catecismonalinguabrasilica/

No site, encontramos a Tabuada dos nomes de parentesco que há na língua Brasílica, muito útil para aprender a nomenclatura de parentesco do tupi.

Veja:

https://sites.google.com/site/catecismonalinguabrasilica/clb/06-14

Como dizer "pai", "mãe", "filho" e "filha" eu tupi?

PAI

ub - radical de "pai"

tuba - pai, o pai

xe ruba - meu pai

xe rub, ... - meu pai, ... (vocativo, chamando para continuar falar algo)

paí! - ó meu pai! (vocativo)

nde ruba - teu pai / vosso pai / pai de vocês

tuba - pai dele(a)(s)

abá ruba - pai da pessoa

João ruba - pai de João

Maria ruba - pai de Maria


MÃE

sy - radical de "mãe"

sy - mãe, a mãe

xe sy - minha mãe

xe sy, ... - minha mãe, ... (vocativo, chamando para continuar a falar algo)

aí! - ó minha mãe! (vocativo)

nde sy - tua mãe

abá sy - mãe da pessoa

João sy - mãe de João

Maria sy - mãe de Maria


FILHOS

membyra - filho ou filha (em relação à mãe)

xe membyra - meu filho ou minha filha (se eu for a mãe)

xe membykunhã - minha filha (se eu for a mãe)

xe membyrapŷaba - meu filho (se eu for a mãe)

nde membyra - teu filho ou tua filha (se tu fores a mãe)

nde membykunhã - tua filha (se tu fores a mãe)

nde membyrapŷaba - teu filho (se tu fores a mãe)

kunhã membyra - o(a) filho(a) dela (da mulher)

i membyra - o(a) filho(a) dela

Maria membyra - filho ou filha de Maria

o membyra - seu próprio filho (em frase reflexiva cujo sujeito é a mãe e o objeto é o filho)


ta'yra - filho (em relação ao pai)

taîyra - filha (em relação ao pai)

xe ra'yra - meu filho (se eu for o pai)

xe raîyra - minha filha (se eu for o pai)

nde ra'yra - teu filho (se tu fores o pai)

nde raîyra - tua filha (se tu fores o pai)

ta'yra - filho dele

taîyra - filha dele

João ra'yra - filho de João

João raîyra - filho de João

o a'yra - filho dele próprio (em frase reflexiva)

o aîyra - filha dele próprio (em frase reflexiva)

Como se diz "morar" em tupi? (morar com / morar em)

Para dizer morar, usa-se îkó ou îkobé com o devido prefixo de conjugação: aîkó (eu moro), ereîkobé (tu moras) etc.

îko, îkobé
morar

Para se dizer com quem se mora, coloca-se o nome da pessoa seguido de irũnamo (ou irũ-mo), que significa "junto com":

Aîkó Peró irũnamo.
Moro com Pedro.
Fonte: Anchieta, VLB

Xe sy irũ-mo aîkobé.
Moro junto com a minha mãe.

Aîkó xe sy, xe ruba abé irũnamo.
Moro com minha mãe e meu pai.

Para se dizer onde se mora, usa-se pupé ou -pe

Kó taba pupé aîkó.
Moro nesta aldeia.

Rerityba pupé aîkó xe anama irũnamo.
Moro em Reritiba com minha família.
Fonte: Navarro, Método Moderno de Tupi Antigo

Aîkobé Belo Horizonte-pe.
Moro em Belo Horizonte.

Brasil-tepe aîkobé.
Moro no Brasil.


Lista de ocupações/profissões (português-tupi)

Vamos compilar aqui nomes de profissões, ocupações, atividades, condições e títulos, organizadas em ordem alfabética para o português. Se você puder contribuir, deixe um comentário.  Algumas traduções ao tupi são registradas em dicionários ou na literatura em tupi clássico, enquanto outras vêm de extensões do significado a profissões modernas e do processo de formação de novas que é próprio do tupi, que é uma língua aglutinante.

Para algumas entradas, apontamos a fonte como uma sigla cujo significado é mostrado ao final desta página. Para traduções que não forem bem estabelecidas, esclarecimentos serão dados entre colchetes, como no exemplo "especialista - kuapara [conhecedor]", em que está implícito que a tradução "especialista" é uma extensão da tradução "conhecedor", já bem estabelecida.

Caso queira a lista ordenada para as palavras em tupi, veja nossa outra postagem.


advogado - îeruresara [fonte: MNLT]

alfaiate - aomonhangara

armeiro - itaaob monhangara [fonte: VLB]

artesão - monhangara ["fazedor"]

barbeiro - poroapindara

cabeleireiro - kapykara [fonte: MNLT]

cacique - morubixaba

cantor - nhe'engasara

chacareiro - mba'etymbara

chefe - morubixaba

conhecedor - kuapara

construtor (de coisas diversas) - monhangara ["fazedor"]

cozinheiro - mba'emoîypara

cuidador - morerekoara [guardião de pessoas]

curandeiro - paîé [pajé];  poroposanongara [curador, médico]

especialista - kuapara [conhecedor]

estudante - nhembo'esara ["o que tem como ocupação instruir-se"]

fabricante - monhangara

farmacêutico - poroposanongara [remediador]

fazendeiro - mba'etymbara

guarda - terekoara [guardião]

guardião - morerekoara, terekoara

guerreiro - maratekoara (mará-t-ekó-ara) [fonte: CTA]

intérprete - nhe'engerekoara

instrutor - morombo'esara

médico - poroposanongara

nadador - 'ytab [fonte: DTA]

pajé - paîé

pedreiro - itamonhangara

porta-voz - nhe'engerekoara

prefeito - tabusu morubixaba [fonte: MNLT]

professor - morombo'esara

sábio - mba'ekugûaba

taipeiro - ybyokamonhangara

tosquiador - poroapindara

tradutor - nhe'engerekoara

treinador - morombo'esara [instrutor]; terekoara [regente]

vendedor - mba'ema'eĩndara


Fontes:

[CTA] Curso de Tupi Antigo (Pe. A Lemos Barbosa)

[DTA] Dicionário de Tupi Antigo (Eduardo de Almeida Navarro)

[MNLT] Minidicionário de neologismos na língua tupi (José Aristides da Silva Gamito)

[VLB] Vocabulário na Língua Brasílica (José de Anchieta)


[VLB] Vocabulário na Língua Brasílica (José de Anchieta)

Lista de ocupações/profissões (tupi-português)

Vamos compilar aqui nomes de profissões, ocupações, atividades, condições e títulos, organizadas em ordem alfabética para o tupi. Se você puder contribuir, deixe um comentário. Alguns nomes são registrados em dicionários ou na literatura em tupi clássico, enquanto outros vêm de extensões do significado a profissões modernas e dos processos de formação de palavras que são próprios do tupi. 

Para algumas palavras, apontamos a fonte como uma sigla cujo significado é mostrado ao final desta página. Para traduções que não forem bem estabelecidas, usaremos dois-pontos como no exemplo "kuapara - conhecedor: especialista", em que está implícito que a tradução "especialista" é uma extensão da tradução "conhecedor", já bem estabelecida. Para palavras com múltiplos significados, podemos colocar os esclarecimentos em colchetes, como em "terekoara: guardião; regente; [guardião] policial; [regente] maestro".

Caso queira a lista ordenada para as palavras em português, veja nossa outra postagem.


îeruresara - advogado [fonte: MNLT]

itaaob monhangara - armeiro

itamonhangara - pedreiro: trabalhador siderúrgico/metalúrgico, ferreiro, cuteleiro

kapykara - cabeleireiro [fonte: MNLT]

kuapara - conhecedor: especialista

mba'ema'eĩndara - vendedor, mercador, comerciante

mba'emonhangara - oficial

mba'emoîypara - cozinheiro

mba'ekugûaba - sábio: estudioso, especialista, mestre

mba'ekuapara - letrado: intelectual, bacharel, doutor

mba'etymbara - hortelão: agricultor, cultivador, chacareiro, fazendeiro

monhangara - fabricante, artesão, construtor

aomonhangara - alfaiate, fabricante de roupas

maratekoara - guerreiro [fonte: CTA, grafia na fonte: mará-t-ekó-ara]

morerekoara: guardião; cuidador; regente; [guardião] policial; [cuidador] tratador, cuidador de idosos, babá; [regente] maestro

morombo'esara - professor, ensinador, instrutor; [instrutor] treinador

morubixaba - chefe, cacique

nhembo'esara - estudante ["o que tem como ocupação instruir-se"]

nhe'engerekoara - tradutor, intérprete; porta-voz

nhe'engasara - cantor

paîé - pajé: curandeiro

poroapindara - barbeiro, tosquiador

poroposanongara - médico, remediador, curador; [remediador] farmacêutico; [curador] profissional de saúde

tabusu morubixaba - prefeito  [fonte: MNLT]

terekoara: guardião; cuidador; regente; [guardião] policial; [cuidador] tratador, cuidador de idosos, babá; [regente] maestro

ybyokamonhangara - taipeiro: construtor de paredes ou casas, pedreiro

'ytab - nadador [fonte: DTA]


Fontes:

[CTA] Curso de Tupi Antigo (Pe. A Lemos Barbosa)

[DTA] Dicionário de Tupi Antigo (Eduardo de Almeida Navarro)

[MNLT] Minidicionário de neologismos na língua tupi (José Aristides da Silva Gamito)

[VLB] Vocabulário na Língua Brasílica (José de Anchieta)


Como se diz "gostar" em tupi?

Já vimos que "amar" é aûsub. Existe também a palavra moapysyk, formada pelo adjetivo apysyk, que significa "satisfeito", e o prefixo mo-, que tem o sentido de "tornar", "fazer ficar". Portanto, moapysky é "tornar satisfeito", podendo ser traduzido como "agradar". Assim, o sujeito não é a pessoa que gosta, mas sim a coisa que agrada. Em vez de dizermos "eu gosto de maracujá", o que dizemos é "maracujá me agrada".

Murukuîá xe moapysyk.
Maracujá me agrada.

É similar ao verbo gustar do espanhol, que também tem o que se gosta como sujeito.

Me gusta la fruta.
Me agrada a fruta.

Se fruta é passada para o plural, o verbo também passa, pois a fruta é o sujeito da oração.

Me gustan las frutas.
Me agradam as frutas.

Isso não ocorre com o verbo "gostar" em português, pois dizemos "eu gosto da fruta" e "eu gosto das frutas" sem modificação no verbo, que concordo com o pronome "eu".

No espanhol, embora quem gosta seja o objeto, não o sujeito, do verbo gustar, costuma-se colocar o sujeito (no exemplo, las frutas) no final da frase, talvez porque se trata de um sujeito que parece ser objeto. Afinal, a pessoa que gosta é que desempenha a "ação" de gostar, enquanto a coisa gostada é passiva. O mesmo ocorre em tupi, sendo comum colocar o sujeito (a coisa gostada) no final da frase. Em vez de murukuîá xe moapysyk, é mais natural escrever xe moapysyk murukuîá.

Xe moapysyk murukuîá.
Me agrada maracujá.
Gosto de maracujá.

A norma culta mandaria usar "agrada-me" em vez de "me agrada" no início de frases, mas a forma popular "me agrada" permite melhor paralelo com xe moapysyk.

Xe moapysyk mimbaba.
Me agradam os animais de estimação.
Gosto de animais de estimação.

A tradução também poderia ser "gosto do animal de estimação", pois os substantivos em tupi não marcam obrigatoriamente o singular e o plural, nem se os substantivos são definidos ou indefinidos. Existem maneiras de fazer esses tipos de especificação se for absolutamente necessário, que trataremos em outro momento. Note que apenas 8% das línguas do mundo têm artigo definido e indefinido (veja), embora a um falante de línguas europeias eles pareçam ser necessários.

Xe moapysyk (mimbaba) îagûara. 
Gosto de cachorros (de estimação).

Xe moapysyk (mimbaba) marakaîá.
Gosto de gatos (de estimação).

Para dizer que não gosta de algo, coloque nda antes do verbo, e de seu pronome se houver, e i imediatamente após o verbo.

Nda xe moapysyk-i (mimbaba) marakaîá.
Não gosto de gatos (de estimação).

Para dizer que gosta de alguma atividade, use um verbo no infinitivo como sujeito.

Karu xe moapysyk.
Comer me agrada.
Gosto de comer.

Murukuîá karu xe moapysyk.
Comer maracujá me agrada.
Gosto de comer maracujá.

Xe moapysyk murukuîá karu.
Me agrada comer maracujá.
Gosto de comer maracujá.

Xe moapysyk murukuîá karu.
Gosto de comer maracujá.

Nda xe moapysyk-i murukuîá (karu).
Não gosto de (comer) maracujá.

Xe moapysyk murukuîá karu.
Gosto de comer maracujá.

Xe moapysyk ybá.
Gosto de fruta(s).

Xe moapysyk ybá karu.
Gosto de comer fruta(s).

Xe moapysyk ybá karu.
Gosto de comer fruta(s).

Xe moapysyk kafery kamby ndi.
Gosto de café com leite.

A palavra ndi signifca "com" mas vem depois da palavra a que se aplica, como a maioria das partículas do tupi que funcionam como as preposições e conjuções do português. Para dizer "com leite", diz-se "leite-com" (kamby ndi). Assim, kafery kamby ndi é algo como "café leite-com", ou seja, café com leite.

Xe moapysyk kamby kafery ndi.
Gosto de leite com café.

Kafery kamby ndi xe moapysyk .
Café com leite me agrada.

Kamby kafery ndi xe moapysyk.
Leite com café me agrada.

Xe moapysyk kamby kafery ndi karu.
Agrada-me beber leite com café.

Xe moapysyk îepé.
Gosto de você.
Você me agrada.

Asaûsub Tupã.
Amo a Deus.

Tupã xe moapysyk.
Deus me agrada.
Deus me sacia.

O verbo moapysyk também pode ter o sentido de "saciar, satisfazer", como este exemplo do Catecismo na Língua Brasílica:

Xe moapysyk îepé.
Sacia-me tu.

Veja também na história Îpotara Karagûatátýpe a frase "ele gosta de forasteiros", utilizando a construção i moapysyk, em que i é uma forma do pronome da 3ª pessoa usada com alguns verbos.

Outra maneira de dizer que se gosta de algo é usar a estrutura "xe apysky {coisa gostada} resé"

Xe apysyk _______ resé.
( xe / apysyk / _____ / resé )
( eu / satisfeito / _____ / com )
Eu fico satisfeito com _______.

Xe apysyk ybá resé.
Eu fico satisfeito com frutas.
Gosto de fruta.

Xe apysyk mimbaba resé.
Gosto de animais de estimação.

A partícula resé muda para sesé quando se diz "gosto dele(a)(s)", dispesando o uso do pronome ele(a)(s) explicitamente.

Xe apysyk sesé.
Gosto dele(a)(s).

Sesé xe apysyk.
Gosto dele(a)(s).



Profissões intelectuais e especializadas em tupi

Do verbo "saber, conhecer", kuab (ou kuá ou kugûab), temos a palavra "conhecedor", kuapara.

kuapara
conhecedor

Para expressar um hábito, ocupação ou profissão relacionada a coisas, utilizamos o prefixo mba'e-. Temos no tupi registros das palavras "sábio" e "letrado", formadas como "conhecedor das coisas".

mba'ekugûaba
sábio
"conhecedor das coisas"
(por extensão) estudioso, especialista; mestre

mba'ekuapara
letrado
(por extensão) intelectual; bacharel; doutor

Sugiro substituirmos mba'e por palavras mais específicas para forma profissões que envolvam conhecimento aprofundado, atividade intelectual ou formação superior. Por exemplo, para descrevermos um nutricionista, poderíamos substituí-la por tembi'u, que significa "comida" e, por extensão, "alimentação".

tembi'ukugûaba
conhecedor de comida
(proposta) técnico em nutrição; chefe de cozinha

tembi'ukuapara
letrado em comida
(proposta) nutricionista; gastrônomo

Poderíamos também combinar com a expressão com poroposanongara (médico, remediador, curador) para deixar o significado mais específico.

tembi'ukuapara poroposanongara
(proposta) nutricionista clínico; médico nutrólogo

tembi'uporoposanongara
(proposta) nutricionista clínico; nutrólogo

Como um outro exemplo, usemos a palavra nhe'enga, que significa fala, língua (idioma) ou canto (e música por extensão).

nhe'enga kugûaba
conhecedor dos idiomas
connhecedor dos cantos

nhe'ẽkugûaba
(nhe'eng + kugûaba)
conhecedor de fala/língua/canto
(proposta) especialista em letras, idiomas
(proposta) especialista em música, canto


nhe'ẽkuapara
(nhe'eng + kuapara)
"letrado em fala/língua/canto"
(proposta) bacharel/graduado em letras, idiomas
(proposta) bacharel/graduado em música, canto


Note, porém, que temos registro históricos das palavras nhe'engasara (cantor) e terekoara (regente).

nhe'engasara
cantor

terekoara
regente de música ou dança


Como dizer a idade em tupi?

Em tupi, conta-se os anos pelas vezes que houve amadurecimento de cajus. Portanto, "ano" é "caju-maduro": akaîu-'aîuba.

akaîu-'aîuba
ano(s)
caju maduro

Para informar a idade, dizemos quantos cajus maduros temos.

Arekó 25 akaîu-'aîuba.
Tenho 25 anos.

Ererekó 50 akaîu-'aîuba.
Tens 50 anos.
Você tem 50 anos.

Na página http://aprenderalinguatupi.blogspot.com/2020/02/9-licao-mboesaba-porundyka.html, você poderá encontrar a pergunta "quantos anos você tem?" e a devida resposta.

Como se diz "sou um estudante" em tupi?

O verbo mbo'e significa "ensinar". Com o prefixo emi-, torna-se "o que é ensinado", ou seja, um aluno ou discípulo. A palavra deve ainda receber o prefixo t-, r- ou s- dependendo de como aparece, na forma independente ou como "aluno de alguém". 

temimbo'e
aluno(a), discípulo(a)
(por extensão) estudante

Jesus remimbo'e
discípulo de Jesus

kunhã remimbo'e
aluno da mulher

semimbo'e
aluno dele/dela/deles/delas

Kunumĩ semimbo'e.
O menino é aluno dele.
Os meninos são alunos delas.
etc.

Como se pode notar, emimbo'e (t) designa o aluno em relação ao mestre, ao professor. Para designar o estudante em relação ao tema estudado, pode-se usar nhembo'e, que é a forma reflexiva do verbo mbo'e, significando "ensinar a si próprio", "instruir-se", "aprender". Podemos então forjar a palavra nhembo'esara em analogia a morombo'esara.

nhembo'esara
estudante
"o que ensina a si próprio como hábito, ocupação"

morombo'esara
mestre, professor
"o que ensina pessoas como hábito, ocupação"

Ixé nhembo'esara.
Eu sou estudante.

A'é nhembo'esara.
Ele(a) é estudante.

Trocando o final -sara por -saba, temos a ideia de lugar, estabelecimento, e portanto "escola":

nhembo'esaba
escola

sábado, 24 de julho de 2021

Como dizer minha profissão ou ocupação em tupi?

Existe um procedimento padrão para se formar nomes de ocupações ou profissões em tupi:

(1.º) Toma-se o verbo que descreve a atividade. Por exemplo, mbo'e (ensinar) ou ma'e'ĩ (vender).

(2.º) Defina se o objeto do verbo, aplicado à atividade descrita, são pessoas ou coisas. Caso sejam pessoas, use o prefixo moro- (ou poro-). Se forem coisas, use o prefixo mba'e. Usando nossos exemplos, temos morombo'e (ensinar pessoas) e mba'ema'e'ĩ (vender coisas). Se o verbo começar em vogal, o prefixo moro- perde a vogal final e vira mor- (p. ex., de erekó temos morerekó).

(3.º) Adicione o sufixo -sara, que dá o sentido de "agente" e corresponde aos sufixos -or e -dor do português, como em "professor" e "vendedor". Esse sufixo admite as variações -ara e -ana. Caso a a palavra termine em som nasal (como mba'ema'e'ĩ), use a forma nasalizada do sufixo: -ndara (mba'ema'e'ĩndara).

morombo'esara
professor, instrutor

( moro + mbo'e + sara )
( pessoas + ensinar + agente )
ensinador

mba'ema'e'ĩndara
vendedor, mercador, comerciante

( mba'e + ma'e'ĩ + ndara )
( coisas + vender + agente )
vendedor

Cada uma das palavras assim criadas poderiam descrever muitas profissões diferentes da modernidade. Morombo'esara poderia ser um professor, um instrutor, um treinador etc. A palavra erekó tem um significado amplo, tendo, como possíveis traduções, governar, reger, guiar, guardar e cuidar. Portanto, morerekoara também pode governador, regente, guia, guardião, cuidador. O dicionário de Navarro registra para a palavra relacionada terekoara os significado de "criado, serviçal" ou "aio, aia", mas também de "regente (de música ou dança).

Caso seja importante destacar que se trata de uma profissão de chefia, pode-se usar ubixaba (chefe) na formação da palavra.

mba'etymbara
hortelão
agricultor

mba'etymbarubixaba
chefe de hortelão
agricultor chefe
chacareiro, fazendeiro

mba'etymbara rubixaba
chefe dos hortelãos
chacareiro, fazendeiro

Se a pessoa fizer questão de dizer que não somente é o chefe, mas o proprietário, pode usar -îara (senhor) na formação da palavra. Deve-se usar -yîara quando o radical anterior termina em consoante, como é o caso das palavras terminadas em -a (mas não á). Por isso, a composição de taba (aldeia) com îara (senhor/senhora) fica tabyîara (senhor da aldeia, senhora da aldeia). O dicionário do professor Navarro traz Tupã sy, tabyîara (a mãe de Deus, senhora desta aldeia), tirada do Teatro, do Padre Anchieta.

No entanto, se disséssemos mba'etymbara îara (senhor dos hortelãos) ou mba'etymbaryîara (senhor de hortelãos), a expressão talvez remeta à servidão ou mesmo à escravidão. É interessante evitar essa ideia trocando o sufixo -ara por -aba (lugar, estabelecimento). Em vez de mba'etymbara, teremos mba'etymbaba (lugar de plantar coisas, horta), da qual obtemos mba'etymbaba îara ou  mba'etymbabyîara, senhor de horta e, por extensão, dono de chácara ou fazenda.

mba'etymbabyîara
chacareiro, fazendeiro (proprietário)

Para dizer apenas "chefe", normalmente se usa morubixaba, que na verdade significa chefe de gente  (moro + ubixaba) e também é a palavra tupi para "cacique".

morubixaba
chefe
cacique

Há duas maneiras de se dizer "eu sou chefe". Com morubixaba antes do pronome, a palavra funciona como um substantivo. Quando se coloca o substantivo depois do pronome, é comum que ele perca o -a para se tornar um adjetivo ou verbo.

Morubixaba ixé.
O chefe sou eu.

Ixé morubixab.
Eu chefio.

Funciona de modo análogo para outras ocupações.

Morombo'esara ixé.
O professor sou eu.

Ixé morombo'esara.
Eu ensino pessoas.
Eu sou professor.

Mba'ema'e'ĩndara ixé.
O vendedor sou eu.

Ixé mba'ema'e'ĩndara.
Eu vendo coisas.
Eu sou vendedor.

Poroposanongara ixé.
O médico sou eu.

Ixé poroposanongar.
Eu curo pessoas.
Eu sou médico.

O verbo posanong significa "medicar, remediar, curar", de modo que poroposanongara talvez possa ser estendido a outros profissionais de saúde. 

poroposanongara
curador
profissional de saúde

No entanto, dependendo da profissão e atuação, talvez alguns profissionais de saúde prefeririam usar morerekoara (cuidador, guia) ou mesmo morombo'esara (ensinador, professor, instrutor, treinador).

morerekoara
cuidador
profissional de saúde

A palavra morerekoara também tem o sentido de "guardião", de modo que poderia se aplicar a guardas, policiais, militares, profissionais de segurança em geral.

morerekoara
guardião
profissional de segurança

Mas também existe registro para "oficial", com a formação "o que faz as coisas": mba'emonhangara.

mba'emonhangara
oficial

O verbo monhang (fazer) aparece em muitos nomes de profissão.

monhangara
fabricante

aomonhangara
alfaiate
fabricante de roupas

itaaob monhangara
armeiro

itamonhangara
pedreiro
"fazedor de pedras"

A palavra itá significa "pedra" mas foi estendida aos metais também, portanto itamonhangara poderia se referir a quem trabalha com metais.

ybyokamonhangara
taipeiro de pilão
(construtor de casas de barro socado entre tábuas)
por extensão, construtor de paredes, muros, casas etc.

pindamonhangara
fabricante de anzóis


Finalmente, devemos salientar que, embora Navarro recomende a retirada do -a quando o pronome precede o nome da profissão, Lemos Barbosa afirma que qualquer ordem é possível, com ou sem o -a.

Mba'emoîypara endé.
Mba'emoîypar endé.
Endé mba'emoîypara.
Endé mba'emoîypar.

Tu és cozinheiro.

Talvez haja uma certa diferença em sentido ou ênfase.

Mba'emoîypara a'é.
O cozinheiro é ele/ela.
Os/as cozinheiros/as são eles/elas.

Mba'emoîypar a'é.
Quem cozinha é ele/ela.
Os/as que cozinham são eles/elas.

A'é mba'emoîypara.
Ele/ela é o cozinheiro.
Eles/elas são os/as cozinheiros/as.

A'é mba'emoîypar.
Ele/ela cozinha.
Eles/elas cozinham.

Treine essas construções com a sua profissão ou ocupação (tente achá-la em nossa lista). Se não encontrá-la, escolha uma profissão similar ou fale em português mesmo. Tente também descrever a profissão de outras pessoas.

Miriã, Peró abé poroposanongar.
Míriam e Pedro são médicos.
(literalmente: Míriam, Pedro também: são médicos.)

Xe ruba mba'emoîypar.
Meu pai é cozinheiro.

Xe sy morombo'esara.
Minha mãe é professora.

Como se diz "tenho um cão" ou "tenho um gato" em tupi? Falando sobre animais de estimação.

Animal doméstico, de forma geral, é mimbaba em tupi. Essa palavra deu origem a "mumbavo" e "xerimbabo" no português brasileiro, palavras ainda faladas em algumas regiões do país para se referir a animais de estimação. 

mimbaba
animal doméstico, caseiro
animal manso
criação

Ao invés de dizer "tenho um cão", dizemos "tenho um animal doméstico cão". No caso possessivo, os registros indicam o uso da variação eîmbaba.

Xe reimbab.
Tenho criações.
Tenho animal de estimação.

Xe reimbaba îaguara.
Meu animal de estimação é um cão.
Meu cachorro de estimação.

Ixé îaguara reimbab.
Eu crio um cachorro.
Eu tenho um cachorro.
Crio cães.

Ixé marakaiá reimbab.
Eu crio/tenho um gato.

Xe reimbaba tapi'ira.
Meu animal doméstico é uma vaca.
Tenho bovinos.
Crio uma anta.

Xe reimbaba gûyrá.
Crio um pássaro.
Crio pássaros.

Xe ruba reimbaba taîasu.
Meu pai cria um porco selvagem.

Xe sy taîasugûaîa reimbab.
Minha mãe cria um porco doméstico.

Caso queira dizer o nome de seu animal de estimação, use as variações da palavra tera (nome), explicadas numa publicação anterior.

Xe reimbaba îaguara. Totó sera.
Meu animal de estimação é um cão. Totó é seu nome.

Xe reimbaba Gûyrá rera Mimi.
Meu pássaro de estimação chama-se Mimi.

Cascão reimbaba taiasu rera Chovinista.
O porco de estimação do Cascão chama-se Chovinista.

Como dizer "tenho filhos", "não tenho filhos" e "tenho N filhos" em tupi?

Homens e mulheres referem-se aos filhos de forma diferente. Os filhos e filhas em relação à mãe são membyra e em relação ao pai são ta'yra (filho) e taîyra (filha), que mudam para ra'yra e raîyra quando aparecem no caso possessivo (meu filho, teu filho, filho de alguém). Além disso, essas palavras podem funcionar como verbos (ter filho/filha/filhos/filhas) ao perderem o sufixo -a.

Xe membyr.
Tenho filhos.
(falado por mulher)

Nda xe membyr-i.
Não tenho filhos.
(falado por mulher)

Xe membyr, 3 membyra.
Tenho 3 filhos.
(falado por mulher)
(membyra inclui filhos e filhas)

Para saber como pronunciar os nomes em tupi, veja esta publicação anterior: https://tupibrasileiro.blogspot.com/2021/07/os-numeros-em-tupi.html

Xe membyr, 3 kunhã, 2 apŷaba abé.
Tenho filhos, 3 mulheres e 2 homens.
(falado por mulher)

Xe membyr, 3 membykunhã, 2 membyrapŷaba abé.
Tenho filhos, 3 filhas mulheres e 2 filhos homens.
(falado por mulher)


A palavra abé significa "também", mas pode ser traduzida como a conjunção "e". Por exemplo, "ybaka, yby abé" significa "céu e terra", mas literalmente seria "céu, terra também".

Xe ra'yr.
Tenho filhos.
(falado por homem)

Xe raîyr.
Tenho filhas.
(falado por homem)

Xe ra'yr, 3 taîyra, 2 ta'yra abé.
Tenho filhos, 3 filhas e 2 filhos.
(falado por homem)

Essas são as construções que me parecem mais adequadas considerado o que conheço da gramática do tupi, mas não encontrei registros escritos desse tipo na literatura clássica, com frases dizendo quantos filhos se tem. O mais próximo disso que encontrei está na tradução do Credo, na expressão "único filho": ta'yra oîepéba'e. A expressão "um filho" seria ta'yra oîepé. Veja este trecho do Credo:

Arobiar Tupã Tuba opakatu mba'e tetiruã monhanga e'ikatuba'e,
Creio em Deus Pai, todo poderoso

( arobiar / Tupã / Tuba / opakatu / mba'e / tetiruã / monhang + a / e'ikatu + ba'e )
( creio em / Deus / Pai / toda / coisa / qualquer / fazer + {sufixo nominalizador} / poder + aquele que)
creio em Deus Pai, aquele que pode fazer toda e qualquer coisa

ybaka, yby abé monhangara.
criador do céu e da terra.

( ybaka / yby / abé / monhang + ara )
( céu / terra / também / fazer + -dor )
do céu e da terra também criador

Arobiar Jesu Cristo abé Ta'yra oiepéba'e, asé lara [...]
Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor [...]

( arobiar / Jesu Cristo / abé / Ta'yra / oiepé + ba'e / asé / Iara )
( creio em / Jesus Cristo / também / Filho / um + aquele que / a gente / Senhor )
também creio em Jesus Cristo aquele que é um Filho, Senhor da gente


Na grafia original:

Arobiár Tupã Túba opakatú mbaé tetiruã moñánga eikatúbae,
ybáka, yby abé moñangára.
Arobiár Jesu Cristo abé Tayra oiepébae, asé lára [...]

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Como dizer "meu nome é Fulano" em tupi?

A obra Dicionário de Tupi Antigo, do professor Navarro, é um dicionário tupi-português, o que significa que tem os verbetes em tupi organizados em ordem alfabética, seguidos da definição em português. Então, o que fazer se quero traduzir uma palavra na direção contrária, do português para o tupi? Para isso, o Dicionário de Tupi Antigo também inclui um "vocabulário português-tupi" na parte inicial, de modo que a obra é na verdade composta de um vocabulário, com entradas mais breves, e um dicionário, com explicações detalhadas.

No vocabulário português-tupi, encontramos a entrada 

nome - tera

que nos permite procurar pelo verbete "tera" no dicionário tupi-português:

tera - v. era (t)

que nos diz que devemos procurar o verbete "era (t)".

A palavra para "nome" em tupi é expressa como tera (com "era" em negrito) ou era (t) porque o tema era deve ser precedido de t- para significar "nome", a menos que esteja vinculado a um substantivo (nome de alo/alguém) ou pronome (meu nome, seu nome, nome dele etc.), casos em que pode receber r- (para substantivos e pronomes de 1ª e 2ª pessoa) ou s- (para pronomes de 3ª pessoa).

tera
nome

xe rera
meu nome

nde rera
teu nome

sera
seu nome
nome dele/dela/de algo

morubixaba rera
o nome do chefe

Tupã rera
o nome de Deus

Maria sera.
Maria é o seu nome.
Maria é o nome dela.

O verbo "ser" é dispensado em tupi, bastando justapor sujeito e predicativo. Portanto, "meu nome é Fulano" é xe rera Fulano.

Xe rera Fulano.
Meu nome é Fulano.

Xe ruba rera Beltrano.
O nome de meu pai é Beltrano.

Xe sy rera Sicrana.
O nome de minha mãe é Sicrana.

Muitos nomes foram escritos em português mesmo em textos em tupi, mas um purista poderia se restringir aos fonemas próprios do tupi e substituir algumas letras.

Xe rera Puranó.
Meu nome é Fulano.

As vogais finais em tupi costumam ser tônicas, a não ser quando fazem parte de sufixos como -a ou posposições átonas (como -pe em abá-pe = abápe). A palavra Maria soa em tupi como se houvesse um verbo mari ao qual se juntou -a para formar o substantivo. Embora Maria seja um nome frequente na literatura cristã em tupi antigo, Mariá parece mais adequado como um nome "independente", ou seja, um tema nominal.

Xe ruba rera Beretaranó.
O nome de meu pai é Beltrano.

O tupi não tem l, portanto o substituímos por r. As vogais das sílabas que têm encontros consonantais são duplicadas de modo a evitá-los, pois encontros consonantais não são bem aceitos no meio de palavras em tupi. 

Xe sy rera Sikaraná.
O nome de minha mãe é Sicrana.

Outra opção é criar um nome em tupi a partir da etimologia do nome original. Por exemplo, o nome "Leonardo" vem do germânico Leonhardt e significa "leão bravo". Em tupi, poderia Îagûaranhõ (Jaguaranhõ), que significa "onça brava" ou "fera brava", ou Îagûaratã (Jaguaratã), usando a palavra atã, que significa "forte, valente, bravo". Emerson Costa criou versões em tupi para vários nomes comuns. Veja:


quarta-feira, 21 de julho de 2021

Os números em tupi

Para falarmos sobre a expressão dos números naturais em tupi, proponho seguirmos uma ordem crescente, a começar de zero.

0
zero, namba'eruã, aani
zero

A generalização do uso de "zero" como número é relativamente recente na história da humanidade. Poucos povos "inventaram" esse número independentemente. Não é muito difícil de entender o porquê. Se não tenho nada para contar, por que vou inventar um número específico em vez de simplesmente não contar? Parecia mais fácil usar a palavra "nada", essa sim existente nas várias línguas ao redor do mundo. 

Naturalmente, houve razões pensar no zero como um número, e também como um numeral (que é uma palavra que representa um número). Vou deixar que você mesmo pesquise se quiser saber mais da  história do zero (veja, por exemplo, este e este texto).

Na literatura em tupi clássico, é comum usar os números em português, de modo que poderíamos simplesmente escrever zero. A opção mostrada na página Língua Tupi é dizer namba'eruã, formada por mba'e (coisa) e a negação na ... ruã (a palavra negada deve ficar no meio; isso vale para substantivo, pois para verbos usa-se na ... i). Assim, namba'eruã significa "nenhuma coisa". Também dei como opção usar aani, que também significa "nada".


1
oîepé, îepé
um ou uma

As formas oîepé e îepé são variações para o número um (1) em tupi.

2
mokõî
dois ou duas

Encontramos textos antigos com grafias tais como "mocõe" ou "mocõi". Edelweiss cita como etimologia de mokõî uma expressão que significa "faz par".

3
mosapyr, mosapyt
três

Edelweiss cita como etimologia de mokõî uma expressão que significa "faz ponta".

4
quatro, irundyk, irundy, oîoirundyk, monherundyk
quatro

Edelweiss cita como etimologia de irundyk uma expressão que significa "junta pares". Ele diz ainda que a palavra para quatro em tupi é raramente usada. De fato, encontramos a palavra "quatro", escrita em português, na literatura em tupi clássico.

5
cinco, ambó, pó
cinco

Vários autores (como Lemos Barbosa, Frederico Edelweiss e Eduardo Navarro) disseram que os numerais propriamente ditos do tupi antigo eram quatro: oîepé (um), mokôî (dois), mosapyr (três) e irundyk (quatro). Esses autores dizem que, para os demais números, dizem que eram feitas comparações ou circunlóquios. O Padre Figueira registrou ambó ("a mão") para cinco, opá ko mbo (todas estas mãos) para dez e xe po xe py (minhas mãos e meus pés) para vinte. Navarro apresenta xe pó ("minhas mãos") para dez. Praticantes modernos do tupi clássico (tupi antigo revivificado) gostam de usar simplesmente  (mão) para cinco, com influência do guarani paraguaio.

Números maiores

No Manual de Conversação da Língua Tupí, Faris Antonio S. Michaele descreve a existência de dois sistemas de numeração em nheengatu (tupi moderno). O primeiro seria de base 5, no qual o número seis seria dito como "cinco-um", o sete como "cinco-dois" e assim por diante até o dez, que seria "dois-cinco". A partir daí, a continuação seria "dois-cinco-um" (11), "dois-cinco-dois" (12), "dois-cinco-três" (13), até 15, que seria "três-cinco". Em nheengatu, fica assim: 1 - iepé; 2 - mucuên (mucuin); 3 - muçapyra (muçapyre); 4 - erundy; 5 - pô (iepé-pô); 6 - pô-iepé; 7 - pô-mucuên; 8 - pô-muçapyra; 9 - pô-erundy; 10 - mucuên-pô; 11 - mucuên-pô-iepé; 12 - mucuên-pô-mucuên; 15 - muçapyra-pô; 20 - erundy-pô; e assim por diante.

Michaele afirma que o sistema de base 5 é "assás aborrecido" e cita os novos numerais criados para o sistema de base 10: 5 - uaxiny ou pô; 6 - moçuny; 7 - seié; 8 - oicé; 9 - oicepé; 10 - peié; 11 - peié iepé; 20 - mucuên peié; 30 - muçapyra peié; 100 - iepé-papaçaua; 200 - mucuên papaçaua; 1000 - peié papaçaua.

Teodoro Sampaio, em "O Tupi na Geografia Nacional" apresenta o mesmo sistema com grafia semelhante: 5 - uaxiny / acepó; 6 - moçuny; 7 - ceyé; 8 - oicé; 9 - oicépê; 10 - peyé; 100 - papaçaua; 12 - peyé-mocõe; 200 - mocõe-papaçaua; 10.000 - peyé-peyé-papaçaua.

A página Língua Tupi apresenta neologismos para os numerais entre seis e nove: 6 - poîepé; 7 - pokõî; 8 - posapyr; 9 - porundyk. Esses numerais são aglutinações de  (cinco) com os numerais de um a cinco. São adaptações dos numerais do guarani: 6 - poteĩ; 7 - pokõi; 8 - poapy; 9 - porundy. Na minha opinião, esse sistema faz com que alguns nomes sejam demasiadamente semelhantes, podendo causa confusão: mokõî (2) e pokõî (7); mosapyr (3) e posapyr (8); irundyk/oîoirundyk (4) e porundyk (9). Parece-me conveniente não perder sílabas na aglutinação e simplesmente justapor os componentes: pó-îepé ou poîepé (6); pó-mokõî ou pomokõî (7); pó-mosapyr ou pomosapyr (8); pó-irundyk ou poirundyk (9).

Para dar ainda mais ênfase, poderíamos mesmo usar a forma ambó (ã + ) nessas formas, com ambó-mokõî ou ambomokõî para sete, por exemplo. Temos ainda a vantagem de que ambó é de fato registrado em descrições antigas do tupi.

Considerando as possíveis adaptações de termos vindos do português, nheengatu e guarani, além das combinações de termos do tupi clássicos, podemos organizar listas de possíveis termos para os numerais a partir de cinco. Colocamos aqui em itálico os nomes que não estão adaptados à grafia corrente do tupi clássico.

5
cinco, ambó, pó, asepó, uaxiny, gûaxiny
cinco
 
6
seisambó-îepé, poîepé, moçunymosuny
seis

7
sete, ambó-mokõî, pomokõî, pokõî, ceyé, seiéseîé
sete

8
oito, ambó-mosapyr, pomosapyr, posapyr, oicé, oîsé
oito

9
nove, ambó-irundyk, poirundyk, porundyk, oicepé, oîsepé
nove

10
dez, opá ko mbó, opá, xe pó, xepó, peyé, peîé, pa, pá
dez

Nos sistemas apresentados, os números de 11 a 19 são formados como "dez-um", "dez-dois", "dez-três" etc. Esse sistema é lógico e parecido com o que se faz em outros idiomas, como o japonês. Curiosamente, a língua maraguá tem essa ordem invertida, tendo "dois-dez" para "doze" e "três-dez" para "treze", por exemplo, o que é parecido com como foram etimologicamente formados alguns números entre 11 e 16 em muitas línguas europeias. O final -ze das palavras "onze", "doze", "treze", "cartorze" e "quinze" (o francês também tem seize para 16) vem do latim deci e significa "dez", enquanto as partes iniciais (on-, do-, tre-, cartor- etc.) vem de termos para 1, 2, 3, 4,... O mesmo ocorre para -teen em inglês, -dici em italiano e -zehn em alemão.

11
onze, opá îepé
onze

12
doze, opá mokõî
doze

13
treze, opá mosapyr
treze

14
catorze/quatorze, opá irundyk
catorze, quatorze

15
quinze, opá ambó
quinze

16
dezesseis, opá poîepé
dezesseis

17
dezessete, opá pomokõî
dezessete

18
dezoito, opá pomosapyr
dezoito

19
dezenove, opá poirundyk
dezenove

Usamos a forma opá para dez ao formar 11, 12, 13, 14, ... , mas as outras formas apresentadas também poderiam ter sido usadas. Seria de pouco proveito apresentar todas as possibilidades. 

20
mokõî-opá
vinte

21
mokõî-opá îepé
vinte e um

22
mokõî-opá mokõî
vinte e dois

23
mokõî-opá mosapyr
vinte e três

...

30
mosapyr-opá
trinta

40
irundyk-opá
quarenta

50
ambó-opá
cinquenta

60
pomokõî-opá
sessenta

...

100
cem, ken, sa, sá
cem

A opção é uma adaptação ortográfica do guarani sa.

A página Língua Tupi apresenta adaptações fonológicas de cem (ken), mil (mir) e milhão (miryion). A escolha de ken para "cem" se justifica porque a letra "c" não faz parte do alfabeto tupi e sem já é outra palavra em tupi (significa "sair"). Além disso, o k remete à pronúncia da letra "c" no latim clássico, do qual se originou a palavra "cem".

1 000
mil, mir, su, su
mil

1 000 000
milhão, miryion, sua, suá
milhão

Também pode ser interessante apenas fazer adaptações fonéticas para os números grandes:

1 000 000 000 - birîõ
1 000 000 000 000 - tirîõ

1 000 000 000
bilhão, biryion, mir suá
bilhão

1 000 000 000 000
trilhão, tiryion, suasuá
trilhão

Nem mesmo existe concordância entre o português brasileiro e o português europeu sobre o significado da palavra "bilião/bilhão" (1.000.000.000.000 ou 1.000.000.000), o que indica que já fomos longe o suficiente com esses nomes...

terça-feira, 20 de julho de 2021

Uma escrita tupi?

A página a seguir mostra um alfabeto e um silabário, criados para o tupi em 1811 (estimativa) pelo tropeiro José Francisco Pagano Brundo, segundo informações do texto: 

https://ameobrasil.blogspot.com/2013/08/como-escrita-aumentou-auto-estima-da.html

Uma ideia para quem gosta de tatuagens...

Alfabeto 'Novo Tupi'. Veja também o silabário na página original.